Então, dia desses eu fu até botafogo na clínica dos rins pra pegar uma receita pro meu pai, ai enquanto eu aguardava na sala de espera, tinha uma menino loirinho, mega serelepe tentando a todo custo descer as escadas do segundo andar. A avó tentava acalmar o menino, mas ele se divertia tentando fugir da velhinha que corria atrás dele.
A mãe estava conversando com a nefrologista. Meio que sem querer eu passei a prestar atenção na conversa delas... a Mãe, uma moça jovem, bonita, bem arrumada, perguntava á médica sobre a cirurgia de transplante de rim. A médica passava todas as informações, dizendo que era um procedimento muito comum hoje em dia, especialmente porque o menino estava saudável e no peso ideal para o procedimento.
Muito bem preparada e articulada que a médica era, ela não esperava a pergunta que vinha a seguir. Com o rosto vermelho e os olhos já transbordando lágrimas, a mãe pergunta "Doutora, meu filho vai morrer? eu vou perder meu menino?" Vi a médica se quebrar em mil pedacinhos e tentando acalmar aquela mãe aflita.
A mãe tentou disfarçar para não chorar na frente do filho, então ela e a médica foram para o andar de baixo conversar. Naquele momento senti meu coração apertando no peito e quem começou a chorar fui eu. Me levantei e fui pro banheiro pra não dar vexame na frente da avó do menino.
Quando voltei, João estava correndo pelo corredor e deu de frente comigo na sáida do banheiro. Vendo a proximidade que estávamos da escada, segurei João pela mão e o levei de volta até a sala de espera. A avó me agradeceu e foi ai que fiquei sabendo que o nome dele era João. João e Rafael eram gemeos identicos, da mesma placenta, mas Rafael faleceu aos seis meses de gestação e João nasceu prematuro de sete meses já com a deficiência renal.
João tem hoje 2 anos e sete meses e desde o dia um de sua vida faz a diálise peritoneal. Fiquei brincando com João enquanto ouvia as histórias emocionadas de sua avó. Depois de ser atendida, me despedi de João que me deu um beijinho e disse "Tchau titia" nem preciso dizer que saí dalí mega emocionada e desde então penso no João todos os dias e mando minhas vibrações positivas pra ele e pra sua família. Ele ainda tem MUITO o que viver.
As vezes me questiono porque que meu pai, um senhor de 64 anos MUITO bem vividos tem que passar por certas coisas todos os dias, mas hoje vejo que existem pessoas que nem começaram suas vidas e já tem compromissos com a saúde que eles só deveriam ter que se preocupar quando ficassem velhos.
Sei que vai ficar tudo bem, pra todo mundo, inclusive pro João :)
Mais informações sobre diálise peritoneal em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Di%C3%A1lise_peritoneal
